quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A eficácia pedagógica de Jesus: Um novo paradigma de Espiritualidade


Os gregos denominavam “pedagogo” os escravos que tinham a nobre missão de conduzir os menores aos seus mentores, portanto, historicamente o termo pedagogia denota, basicamente, a imprescindível “arte de conduzir ao conhecimento”.

Os evangelhos deixam transparecer em suas narrativas que a primitiva característica da pedagogia pode ser claramente percebida na inter-relação de Jesus com as pessoas, em sua rápida, porém significativa, trajetória na palestina do primeiro século.

O caminhar pedagógico do Mestre tinha como objetivo inaugurar um novo modelo de Espiritualidade, requisito indispensável para quem almejasse habitar no benfazejo Reino de Deus, cuja ênfase estava em conduzir homens e mulheres a se apropriarem da verdade libertadora e salvífica.

Evidentemente que para conduzi-los para além de suas cativas existências fazia-se necessário enfrentar algumas estruturas perversas - patriarcalismo, legalismo, ritualismo, dogmatismo, hipocrisia - que aumentavam ainda mais o abismo entre a religião oficial e a as pessoas, em suas reais necessidades espirituais.

Podemos arriscar, com base nos evangelhos, que a pedagogia de Jesus é libertadora, pois proporcionava às pessoas, escravizadas por um sistema religioso sem vida, respirar o ar puro da doce e graciosa misericórdia.

O processo ensino-aprendizagem em Jesus, além de ser desafiador, assume um rosto “festeiro”, ele come, bebe e celebra com “alunos delinqüentes”, refeições que tinham um significado comprometedor, pois significavam declaração irrestrita de profunda amizade.

Outra característica que merece toda atenção na ação pedagógica de Jesus é o diálogo franco, aberto, nivelado e, acima de tudo, problematizador, que conduz as pessoas a fazerem suas escolhas sem qualquer tipo de constrangimento.

O quarto capítulo do evangelho de João, cujo texto descreve detalhadamente o encontro de Jesus com a mulher Samaritana, mostra a eficácia pedagógica de Jesus na construção de um novo paradigma de Espiritualidade.

Ao conversar com uma mulher Samaritana Jesus enfrentou, ou melhor, desprezou as convenções perversas de sua época, pois não era socialmente adequado um homem conversar em público com uma mulher, e não era também menos inadequado um Judeu dialogar com uma desprezível Samaritana, que além de todas estas características indesejáveis, não tinha um currículo moral dos melhores.

Por último, Jesus liberta a mulher e a todos nós da miopia religiosa que vê a presença do Senhor apenas em espaços geográficos específicos e consagrados, confinando-o a determinadas construções humanas, como se fosse possível enquadrá-lo em Templos.

“Mas vem a hora – e é agora - em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura” Jo 4: 23.

Verdadeiros adoradores, verdadeira Espiritualidade, verdadeira liberdade, onde encontrá-los?

sábado, 3 de novembro de 2007

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Virtudes para uma outra Igreja possível: uma fé rebelde



A palavra rebelde significa: revoltado, opositor, insurgente, indomável e teimoso. Descreve as características de uma pessoa que não se conforma com alguma coisa ou situação, manifestando-a por meio de ações.
A idéia que nós temos sobre rebeldia está condicionada por arquétipos que trazem a idéia de irresponsabilidade, violência, desobediência, ingenuidade, entre outras coisas. Será que o pensamento comum está correto?
Nem sempre o termo define alguém comprometido com a violência ou caos social, alguns agem pacificamente, movidos pela resignação, como é o caso de Martin Luther King, Dalai Lama, Chico Mendes, Nelson Mandela e tantos outros que dignificaram e dignificam a existência humana.
Rogério Brandão escreveu recentemente um artigo na Ultimato “Santa Rebeldia”, que causou repulsa em algumas pessoas, pois não entenderam a essência do texto, que em nenhum momento, em minha opinião, foi inconseqüente.
Percebo que a problemática que se desenrola entre os cristãos, a respeito deste assunto, é a exigência bíblica de submissão às autoridades constituídas. É possível conciliar estes dois conceitos aparentemente antagônicos? Acredito que sim, pois são duas realidades que co-existem nos personagens do Antigo e Novo testamento, basta uma leitura “libertadora” da Bíblia. Ops! Rotular-me-ão como adepto da teologia da libertação?
Em minha frágil leitura neotestamentária percebo que: todo o conceito de submissão às autoridades deve ser pautado pelo viés da obediência primeira a Deus - Porém, respondendo Pedro e os Apóstolos, disseram: mais importa obedecer a Deus do que aos homens. Atos 5: 29.
O texto Bíblico aponta para uma atitude de rebeldia explícita por parte dos líderes da Igreja do primeiro século, ao se revoltarem contra as ações do Supremo Concílio Judaico, que desejava calá-los para não mais pregarem o Evangelho. Eles foram indomáveis e teimosos em defesa das Boas Novas.
Os insurgentes saíram da presença das autoridades, louvando a Deus pelos açoites que levaram na prisão: Retiraram-se, pois, da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus. Atos 5: 4.
Os líderes da Igreja primitiva foram forjados pelo exemplo de Jesus, o maior de todos os rebeldes do Novo Testamento. Ele é lembrado pelos Evangelhos se revoltando contra os cambistas do Templo, fazendo duríssima oposição à religiosidade “bancária” dos Fariseus, emprestei o termo de Paulo Freire, não cedendo um milímetro de sua mensagem profética, mesmo tendo a oportunidade de abandonar suas convicções para livrar sua pele, indomável e maravilhosamente teimoso!
Os quadros mais belos, pintados pelos evangelistas, são aqueles que retratam as insolências de Jesus à mesa com pecadores, curando nos sábados, quebrando o protocolo social ao conversar com mulheres em locais públicos e por fim pendurado na Cruz como um subversivo.
Outro exemplo de coragem pode ser encontrado no livro dos Atos dos Apóstolos, que narra vários episódios de insubordinação “santa”. Um deles me chama a atenção mais que os outros, àquele que descreve a prisão de Paulo e Silas em Filipos que, após a extraordinária intervenção do Senhor, exigiram das autoridades retratação pelo erro jurídico que cometeram. Que loucura! Se fosse eu sairia correndo o mais rápido possível. At. 16: 16-40.
A diferença? Uma fé que não se ajoelhava diante das injustiças, que não se intimidava com a perseguição e nem tampouco com a possibilidade de enfrentar as bestas feras nos circos Romanos. O martírio era o coroamento de uma vida consagrada ao senhor, por isso cantavam em direção a ele com hinos de louvores ao Senhor.
Confesso que ficaria feliz se alguns teólogos tivessem a mesma ousadia, com que defendem seus enunciados teológicos, em denunciar uma sociedade insensível à miséria, que mora logo ali ao lado. Agora me denunciei!
Alegrar-me-ia com uma Igreja Viva, que não faz concessões, barganhas, simulacros, dissimulações, entre outras coisas. Não fomos chamados para ser uma comunidade de açúcar, com membros docilmente preparados para a dominação.
Portanto, prefiro uma Igreja que em sua vocação profética coloque o dedo em riste, condenando os sem escrúpulos, que depenam a máquina pública, fazendo perecer milhares de pessoas nas filas dos hospitais, do que uma comunidade que partilha dos despojos com os poderosos.
Que Deus tenha misericórdia de todos nós!