sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Louvor e adoração na pós - modernidade

Texto: João 4:

“Os verdadeiros adoradores adorarão em Espírito e em Verdade”.


Entre as referências de pensamentos que vigoram na atualidade destaca-se a pós - modernidade. Este conceito não define um período da história, mas sim um modo de pensar que recusa os pressupostos da modernidade, como por exemplo, o pessimismo acentuado do paradigma otimista que prometia, entre muitas coisas, a independência do individuo em relação ao universo místico e a solução dos problemas humanos com o desenvolvimento científico.
A crise intelectual tem produzido profundas mudanças no cenário mundial. Instituições e ideologias solidamente construídas são desconstruídas. O Cristianismo não está isento deste processo. Percebe-se que os elementos que compõem a fé e o culto cristão sofreram e/ou sofrem consideráveis modificações.
A explicação é simples: o mundo em que o cristianismo habita não é o mesmo de algumas décadas ou séculos atrás. Isto não deve assustar os que professam a fé cristã, a história da Igreja está repleta de adaptações culturais que se tornaram necessárias para sua sobrevivência.
Você deve estar se perguntando: e o que isto tem a ver com louvor, adoração e o texto que pauta esta reflexão?
Calma! Acredito que o pensamento pós – moderno, salvo exceções, pode apontar caminhos para uma nova atitude em relação ao nosso relacionamento com Deus.
Para tanto cito o texto do Evangelho Segundo João capítulo quatro que nos traz excelentes pistas para refletirmos sobre o louvor e a adoração em um mundo marcado pela ruptura de padrões de pensamento, vejamos:

1. A desconstrução da idéia de que o louvor e a adoração obedecem a “espaços sagrados” monopolizadores.

" 20 Nossos antepassados adoraram neste monte, mas vocês, judeus, dizem que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. 21 Jesus declarou: Creia em mim, mulher: está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém. 23 No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. 24 Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade
Em primeiro lugar entendo que o texto derruba o conceito de lugares específicos para o louvor e adoração, basta conferir os textos dos evangelhos que apresentam Jesus interagindo em espaços considerados “inapropriados”, como por exemplo, a casa de Publicanos.
A dependência de espaços “santos” para relacionamento com o eterno conduz a uma dicotomia entre o “sagrado” e o “profano” e supervaloriza “lugares adequados” em detrimento de uma ação para fora dos limites da geografia eclesiástica

2. A descontinuidade da idéia de que o louvor e a adoração são exclusividades de pessoas com capacidades extraordinárias..

" 23c São estes os adoradores que o Pai procura"
Uma segunda questão, não menos importante, é a supervalorização de pessoas com qualidades extraordinárias, principalmente na música .Os ensinamentos do Mestre apontam para uma questão paradoxal, pessoas sem “selo de qualidade” também encontram oportunidade para prestarem seu tributo a Deus.
Quem adorou a Deus na parábola do Bom Samaritano? O Sacerdote, o Levita ou o pária do Samaritano? De que maneira ele louvou a Deus, com a música? Não estou com isso menosprezando a função, por exemplo, do ministro de louvor, apenas penso que devemos adorar e louvar a Deus nas múltiplas competências que possuímos.  É possível louvar e adorar a Deus pintando quadros, dançando, brincando, rindo, esculpindo, estendendo a mão, agindo com misericórdia, etc.

3. A fragmentação do pensamento míope de que o louvor e a adoração obedecem a métodos pré – determinados que resultarão em eficácia garantida - “produtividade”.
"24 Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade".

Por último proponho uma indagação: um método aparentemente eficaz conduz a um resultado seguro? A modernidade provou que não, pois a exploração da natureza e a customização de produtos até o consumidor final tem produzido em tão pouco tempo a escassez dos recursos que possibilitam a vida na terra.
O que a pós – modernidade tem a nos ensinar sobre a desconfiança metodológica? Simples! Jesus nos apresenta algo que dificilmente levamos em conta, que a maneira mais adequada para uma espiritualidade plena é a humanização das nossas ações. Deus não se satisfaz com seres humanos agindo como máquinas programadas para “adorá-lo” numa religiosidade que mais parece uma linha de produção.
Acredito que adorar em “Espírito” e em “Verdade” tem a ver com meditação e celebração; silencio e barulho; murmúrio e grito; felicidade e tristeza; sucesso e derrota; e sentimentos como estes não podem ser “domesticados”.
Portanto a pós – modernidade nos convoca a entender que adoração tem a ver com o amor irrestrito que sentimos por Deus, enquanto o louvor é a resposta que damos a este amor. Institucionalizar, “mecanizar” este relacionamento é um erro que muitos “religiosos” cometem e que traz grande insatisfação, tanto para nós quanto para o Senhor.