terça-feira, 23 de outubro de 2007

Rabiscos para uma liderança possível

A Igreja Evangélica Brasileira passa por uma crise sem precedentes, fato que pode ser facilmente constatado nos veículos de comunicação de massa, que estampam nossas mazelas em todo o país.
As recentes acusações públicas, envolvendo alguns líderes de destaque no cenário evangélico, são provas contundentes de que algo de grave está acontecendo entre nós.
Acredito que um dos fatores que tem minado a força do clero evangélico é a sua auto-suficiência, acreditam que são super-homens ou super-mulheres, que estão acima de qualquer dificuldade e que gozam de “cobertura espiritual” incondicional.
Por causa desta confiança exacerbada muitos entram em declínio espiritual prejudicando a Igreja em que atuam como pastores ou pastoras, manifestando à sociedade um péssimo exemplo de cristianismo e trazendo descrédito para a mensagem do evangelho.
Desconfio que a origem das chagas que tomam conta de uma parte da liderança protestante está na ausência de preparo para desenvolver as funções do pastorado e também a falta de cuidado pastoral para os que exercem o pastoreio.O que fazer então? Penso que é difícil em poucas linhas mapear os caminhos a serem seguidos para recuperar a credibilidade da liderança evangélica nacional., mas é possível rabiscar algumas possibilidades:
1. Diminuir a concentração de poder. Um (a) líder que deseja servir a Cristo com autenticidade não pode ter ganância pelo poder, mas terá prazer em compartilhar suas funções e prerrogativas com outros (as) líderes qualificados (as). Um ministério não pode circunscrever-se a uma única pessoa.
2. Abrir mão dos holofotes. Muitos (as) são os (as) que se perderam no caminho quando se acharam excessivamente importantes para o sucesso do movimento e transformaram ministérios em reino terreno, com projetos megalomaníacos envolvendo grandes somas de dinheiro. Este caminho é perigoso!
3. Compartilhar medos, dores, traumas e ressentimentos. A comunidade não precisa de um Pastor (a) com super-poderes, e sim um ser humano que tem sentimentos e frustrações como qualquer outra pessoa. Mostrar o lado frágil em certos momentos fortalece a figura do Pastor (a).
4. Amar, cuidar e zelar pela família. Não há nada mais importante para alguém que serve a causa do Reino do que estar com os seus em perfeita harmonia e sintonia. Cuidar da família é um dever bíblico de todo aquele (a) que almeja trabalhar para o Senhor. Se um Pastor (a) não consegue ver o rosto de Deus no sorriso maroto de seu filho (a) está em apuros.Se não consegue se surpreender com a beleza e sensualidade de sua esposa (o) está caminhando para a desgraça.
Portanto uma liderança eficaz, que cumpre seu propósito em cooperar com o Reino de Deus, além de refletir sobre as pistas expostas acima, deverá eleger como exemplo Jesus, que: abdicou do status de celebridade, abriu mão do poder mundano e de suas riquezas, se ausentou para estar perto de Deus, amou pecadores a ponto de sentar à mesa com eles em manifestação genuína de amizade, não teve medo de compartilhar sua dor e jamais cedeu a síndrome de homem de aço.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Menos Religião e mais Compaixão

Em recente artigo postado neste espaço, “Menos Igreja e mais Happy Our”, fiz uma crítica a centralidade do templo na devoção religiosa evangélica, que em minha modesta opinião gera graves transtornos para a maturidade dos Cristãos, condicionando-os a guetos religiosos.
Concentro-me agora no distanciamento da igreja das reais necessidades dos habitantes do local onde funciona, causando desconfiança sobre suas verdadeiras intenções.
Não há dúvida que a presença das Igrejas evangélicas se faz sentir praticamente em todos os bairros das grandes cidades. Há casos em que funcionam frente a frente ou lado a lado, como já mencionei anteriormente.
O Departamento de Pesquisas da Cepal previa que em 2005 haveria aproximadamente 202 mil templos evangélicos espalhados em todo território nacional, possivelmente este número tenha aumentado muito nos últimos dois anos.
Acredito que uma grande parte destes templos possui amplas instalações -  em alguns casos luxuosas -preparadas para atender os vários departamentos criados pela burocracia eclesiástica e que muitas vezes não correspondem com a situação econômica de seus freqüentadores.
São grandes os prejuízos para a sociedade, e também para o Reino, esses prédios permanecerem fechados a maior parte do dia enquanto há uma infinidade de carências entre a população mais pobre.
Sinto-me constrangido quando percebo o isolamento da Igreja, insensível ao abismo social existente no Brasil. Algumas até criaram entidades de assistência social, mas nem sempre com fins legítimos, como ficou comprovado com a máfia das sanguessugas. Perdemos a oportunidade de cooperar com o Reino de Deus quando agimos de maneira egoísta, olhando somente para as nossas reais “necessidades” consumistas.
Não são raras as ocasiões em que agimos de maneira hipócrita quando despedimos o necessitado de mão vazias e sem ajudá-lo dizemos: “Jesus te ama”.Quantas vezes nos sentimos mal com a aproximação de um necessitado pedindo ajuda na saída da Igreja? Gostaríamos que aquela pessoa simplesmente não existisse.
Imaginem comigo, como seria bom se em cada igreja houvesse uma quadra de esportes com um voluntário de educação física ensinando valores e dando esperança para crianças de rua. Mais um pouco de imaginação: o que vocês achariam de uma comunidade aberta durante o dia oferecendo cursos gratuitos de qualificação, ministrados por profissionais voluntários? Façam mais um pouco de esforço e pensem nas salas de aula, àquelas que são usadas duas horas por semana nas atividades da escola dominical, repletas de crianças recebendo reforço escolar de professores voluntários.
O que machuca caríssimos irmãos é que as Igrejas são isentas de impostos, pois a constituição entende que se trata de instituições sem finalidade lucrativa e que praticam filantropia. Será?

“A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo”. Tg 1: 27.