sexta-feira, 14 de novembro de 2008

É preciso saber crer



É preciso saber viver
Quem espera que a vida/ Seja feita de ilusão/ Pode até ficar maluco/ Ou morrer na solidão/ É preciso ter cuidado/ Pra mais tarde não sofrer/ É preciso saber viver
Toda pedra do caminho/
Você pode retirar/ Numa flor que tem espinhos/ Você pode se arranhar/ Se o bem e o mal existem/ Você pode escolher/ É preciso saber viver
É preciso saber viver/ É preciso saber viver/ É preciso saber viver/ Saber viver, saber viver!
(Composição: Erasmo Carlos / Roberto Carlos)

A composição de Roberto Carlos e Erasmo, que fez grande sucesso na interpretação dos Titãs, recomenda certo cuidado para aqueles que buscam na ilusão sua razão de viver. Caso contrário corre-se o risco de, entre muitas outras coisas, "ficar maluco, morrer na solidão e sofrer".
Mas o que é a ilusão? Procurando uma definição encontrei na Wikipédia uma opção que me parece adequada para este texto: “[...] é uma confusão dos sentidos que provoca uma distorção da percepção”.
Uma prática muito popular do ilusionismo é a dos grandes espetáculos de “mágicas”. Consiste basicamente na manipulação de ferramentas ou técnicas que desviam a atenção das pessoas para não perceberem a realidade por trás do número apresentado. Chama a atenção o fato de que ainda que todos saibam que se trata de ilusão o interesse não diminui, ao contrário, ingressos são esgotados rapidamente dependendo do prestigio que goza o ilusionista.
A ilusão como entretenimento, ainda que seja revelatório, não me parece preocupante. Preocupa-me quando ela é amplamente aplicada a áreas que são vitais, ou pelo menos importantes, como na política ou na religião, apenas para citar dois exemplos.
Ela está presente também na indústria cultural, em especial no marketing publicitário. Produtos nocivos a saúde são apresentados como símbolos de identidade, gênero, modernidade, etc. Quem não se lembra do homem do cigarro Marlboro?
Não são poucas as pessoas que sofreram ou sofrem por causa de algum tipo de engodo praticado em um dos seguimentos apresentados.
Em razão disto, acredito que a Igreja, com seus “homens de Deus”, não pode e não deve usar deste expediente. Pois poderá cair em descredito por não entregar os “produtos sagrados” que sistematicamente promete: prosperidade, triunfo e bênçãos desmedidas.
A ilusão do sagrado – propagandear a idéia de um “deus-resolve-tudo” - criou um poderoso mercado de bens e serviços (franquias) no afã de atender a demanda de seus “clientes-seguidores”, que precisam se auto motivar constantemente para que esta mensagem seja internalizada como verdadeira.
Acredito que nunca na história deste país fomos tão iludidos, ela tem sido uma ferramenta poderosa de manipulação das massas “pseudo-felizes”. É a indústria do ilusionismo produzindo em larga escala “bem-estar orgástico”.
A mensagem do evangelho não é algo ilusório, sua mensagem, como diz Paulo, " [...] É o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê", e pode acreditar: “toda pedra do caminho você pode retirar, numa flor que tem espinhos você pode se arranhar, se o bem e o mal existem você pode escolher, é preciso saber viver”.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Louvor e adoração na pós - modernidade

Texto: João 4:

“Os verdadeiros adoradores adorarão em Espírito e em Verdade”.


Entre as referências de pensamentos que vigoram na atualidade destaca-se a pós - modernidade. Este conceito não define um período da história, mas sim um modo de pensar que recusa os pressupostos da modernidade, como por exemplo, o pessimismo acentuado do paradigma otimista que prometia, entre muitas coisas, a independência do individuo em relação ao universo místico e a solução dos problemas humanos com o desenvolvimento científico.
A crise intelectual tem produzido profundas mudanças no cenário mundial. Instituições e ideologias solidamente construídas são desconstruídas. O Cristianismo não está isento deste processo. Percebe-se que os elementos que compõem a fé e o culto cristão sofreram e/ou sofrem consideráveis modificações.
A explicação é simples: o mundo em que o cristianismo habita não é o mesmo de algumas décadas ou séculos atrás. Isto não deve assustar os que professam a fé cristã, a história da Igreja está repleta de adaptações culturais que se tornaram necessárias para sua sobrevivência.
Você deve estar se perguntando: e o que isto tem a ver com louvor, adoração e o texto que pauta esta reflexão?
Calma! Acredito que o pensamento pós – moderno, salvo exceções, pode apontar caminhos para uma nova atitude em relação ao nosso relacionamento com Deus.
Para tanto cito o texto do Evangelho Segundo João capítulo quatro que nos traz excelentes pistas para refletirmos sobre o louvor e a adoração em um mundo marcado pela ruptura de padrões de pensamento, vejamos:

1. A desconstrução da idéia de que o louvor e a adoração obedecem a “espaços sagrados” monopolizadores.

" 20 Nossos antepassados adoraram neste monte, mas vocês, judeus, dizem que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. 21 Jesus declarou: Creia em mim, mulher: está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém. 23 No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. 24 Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade
Em primeiro lugar entendo que o texto derruba o conceito de lugares específicos para o louvor e adoração, basta conferir os textos dos evangelhos que apresentam Jesus interagindo em espaços considerados “inapropriados”, como por exemplo, a casa de Publicanos.
A dependência de espaços “santos” para relacionamento com o eterno conduz a uma dicotomia entre o “sagrado” e o “profano” e supervaloriza “lugares adequados” em detrimento de uma ação para fora dos limites da geografia eclesiástica

2. A descontinuidade da idéia de que o louvor e a adoração são exclusividades de pessoas com capacidades extraordinárias..

" 23c São estes os adoradores que o Pai procura"
Uma segunda questão, não menos importante, é a supervalorização de pessoas com qualidades extraordinárias, principalmente na música .Os ensinamentos do Mestre apontam para uma questão paradoxal, pessoas sem “selo de qualidade” também encontram oportunidade para prestarem seu tributo a Deus.
Quem adorou a Deus na parábola do Bom Samaritano? O Sacerdote, o Levita ou o pária do Samaritano? De que maneira ele louvou a Deus, com a música? Não estou com isso menosprezando a função, por exemplo, do ministro de louvor, apenas penso que devemos adorar e louvar a Deus nas múltiplas competências que possuímos.  É possível louvar e adorar a Deus pintando quadros, dançando, brincando, rindo, esculpindo, estendendo a mão, agindo com misericórdia, etc.

3. A fragmentação do pensamento míope de que o louvor e a adoração obedecem a métodos pré – determinados que resultarão em eficácia garantida - “produtividade”.
"24 Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade".

Por último proponho uma indagação: um método aparentemente eficaz conduz a um resultado seguro? A modernidade provou que não, pois a exploração da natureza e a customização de produtos até o consumidor final tem produzido em tão pouco tempo a escassez dos recursos que possibilitam a vida na terra.
O que a pós – modernidade tem a nos ensinar sobre a desconfiança metodológica? Simples! Jesus nos apresenta algo que dificilmente levamos em conta, que a maneira mais adequada para uma espiritualidade plena é a humanização das nossas ações. Deus não se satisfaz com seres humanos agindo como máquinas programadas para “adorá-lo” numa religiosidade que mais parece uma linha de produção.
Acredito que adorar em “Espírito” e em “Verdade” tem a ver com meditação e celebração; silencio e barulho; murmúrio e grito; felicidade e tristeza; sucesso e derrota; e sentimentos como estes não podem ser “domesticados”.
Portanto a pós – modernidade nos convoca a entender que adoração tem a ver com o amor irrestrito que sentimos por Deus, enquanto o louvor é a resposta que damos a este amor. Institucionalizar, “mecanizar” este relacionamento é um erro que muitos “religiosos” cometem e que traz grande insatisfação, tanto para nós quanto para o Senhor.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Discurso Paraninfo - Bacharéis em teologia 2008

Meus queridos amigos – permitam-me tratá-los desta maneira - hoje é um dia de celebração, pois vocês deram o primeiro passo de uma longa jornada e a escolha não poderia ser melhor, de fato optaram pelo melhor caminho, o da peregrinação teológica que conduz à beleza insondável do Deus que se fez homem e que montou sua tenda entre nós. Avizinhando-se.

Parabéns pela coragem, não são todos que saem ilesos desta experiência e, sinceramente, espero que com vocês não seja diferente.

Mas o caminho da peregrinação - não se enganem - não é uma reta objetiva e previsível, como tantos ditos mestres ensinam, se assim fosse não teria a menor graça, não acham?

Ele apresenta os seus becos, suas vielas, suas subidas e descidas, seus percalços, seus campinhos de futebol, suas casas, enfim, a vida perpassa a estrada a ser pisada.

Muitos trilharam e, de tão obcecados em terminar a viagem, não perceberam que crianças jogavam bola irreverentemente, empinavam pipas, rodavam pião e brincavam de esconde-esconde; tampouco prestaram atenção nos velhos, esquecidos pelos familiares, ávidos para que alguém escutasse suas histórias; muito menos se deram conta do sorriso inocente estampado no rosto banguela dos anônimos que displicentemente "atrapalhavam" o percurso.

Outros percorreram com triunfalismos estapafúrdios e não entenderam que não há garantias pré-estabelecidas. Para os que ousam se aventurar é, literalmente, um salto no escuro, como diria o escritor da epístola aos hebreus, que ninguém sabe quem é, “é a certeza da espera do que não vemos”.

Alguns até tentaram enchergar e cantar enquanto andavam, mas foram ofuscados e silenciados em sua andança pela simples promessa de assegurarem o status quo adquirido, lembrem-se da parábola dos talentos, não se deve enterrar os sonhos com o objetivo de preservá-los é preciso vivê-los.

Portanto, caríssimos teólogos, nossa teologia do caminho não pode ser surda aos acordes da música da vida, não pode ser isenta dos riscos da aventura humana, não pode ser insensível ao choro dos oprimidos e nem tampoco cega quanto as estruturas perversas que escravizam a civilização planetária.

Que possamos trilhar o benfazejo caminho do Reino de Deus com os pés no chão e de preferência descalços.

Deus abençoe a todos!

Obrigado.

domingo, 20 de janeiro de 2008

O sal sem sabor serve apenas para ser pisado pelos homens Mt 5: 13.

Confesso que não tenho poderes extraordinários para conhecer o futuro e nem tampouco gostaria de tê-los, seria traumático. Mas, em minhas singelas previsões, sobre uma parte significativa da comunidade evangélica brasileira, não é preciso dom sobrenatural para prognosticar que teremos um ano novamente marcado pela promiscuidade entre políticos profissionais, que conhecem a força eleitoral dos crentes, e líderes das mais diversas denominações cristãs, que não abrem mão de receberem uma “ajudinha” dos cofres públicos.

Trata-se de uma diabólica relação de interesses, que persiste há muito tempo no arraial protestante, possível de ser constatada nas barganhas discutidas nos gabinetes pastorais: cargos bem remunerados para parentes, doações de terrenos para a construção de templos, proteção política, fornecimento de transporte coletivo, pagamento de despesas de viagens, tanque cheio, concessões de rádio e televisão, apoio para membros ou parentes próximos, que também disputarão as eleições, e mais, muito mais.

O teatro será armado, como sempre, com a mentirosa desculpa de que os “tais políticos” lutarão bravamente a favor da moral e dos bons costumes. Os que não são evangélicos usarão toda sorte de artimanhas para conseguir votos, até mesmo vomitar chavões conhecidos entre nós . Títulos estratégicos como, “simpáticos ao evangelho” ou “amigos da Igreja”, serão dados a eles com a intenção de legitimar suas candidaturas.

A comunidade escolherá seus candidatos em convocação extraordinária, previamente manipulada, transformando-se em empresa política, com toda máquina administrativa e eclesial trabalhando incansavelmente para elegê-los.

Possivelmente, enquanto os púlpitos esbravejarão palavras de “santidade” manobrando o auditório sem alma, cujas vidas foram entregues a insensatez de uma liderança corrupta, líderes venderão suas almas ao diabo nos porões da religião, em negociatas desprezíveis aos olhos de Deus.

Portanto, caríssimos amigos, quando ouvires palavras de triunfo e otimismo exacerbado de alguém que com o dedo em riste desafia o inferno, preste atenção, pois sem dúvida o momento é de luto e opróbrio.