Estou impressionado com a intensa proliferação de templos evangélicos disputando o promissor mercado religioso. Quando passo pelas principais ruas da minha cidade no domingo à noite não consigo ficar alheio a este fato preocupante.
É no mínimo estranho, mas há casos em que duas comunidades distintas funcionam literalmente frente a frente, ou lado a lado.
Tenho a sensação de que a nossa espiritualidade é profundamente dependente da estrutura organizacional do espaço “sagrado”, o templo, sem o qual não se consegue “conectar ao sobrenatural”.
Estou quase convencido que o melhor da espiritualidade brasileira pode não estar nos grandes, e nem tampouco nos menores templos deste imenso país, ao contrario, acredito que algumas igrejas têm sido um estorvo ao crescimento espiritual de milhares de cristãos.
Acredito que uma autêntica espiritualidade poderia (ou deveria?) também surgir de encontros informais e ocasionais, talvez numa pizzaria, no churrasco de final de semana com os amigos, num café expresso, num bate papo na rua, no ônibus, etc.
Perdoem-me os mais conservadores, mas estou convencido que a espiritualidade de Jesus está longe da atitude beata de muitos dos freqüentadores dos cultos evangélicos do domingo à noite.
Os Evangelhos apresentam um Jesus que viveu plenamente toda a complexidade humana, festejando, chorando, cheio de esperança, cheio de temores, orgulhoso da atitude dos homens, irado com a injustiça humana.
Esta vida plena de Jesus segundo os evangelhos nos convida para uma espiritualidade criativa, não domada, que não se curva frente à “retidão do dogma”, mas que se enternece pela fragilidade da vida.
Os “santos” freqüentadores do templo e da sinagoga acusaram Jesus de “beberrão e comilão”, ficaram chocados quando o viram comendo e bebendo com os pecadores numa perfeita desarmonia religiosa.
Não são raros os casos em que os programas religiosos escravizam as pessoas roubando-lhes completamente o tempo que deveria ser destinado à família, aos amigos e a si mesmo.
Alguém poderá se escandalizar com esta afirmação, mas a verdade é que Jesus se “sujava” ao interagir com os “sujos”, ou seja, os excluidos e ignorados pela “limpeza” ritualística dos doutores da lei.
A recusa de Jesus em não se enjaular no templo, de resistir o cabresto do programa religioso e não se prostrar diante da observância cega do dogma deveria pautar nossa espiritualidade.
Portanto me perdoem a ousadia, mas precisamos menos igreja e mais “Happy Hour”.
3 comentários:
Otimo!
Chega de fingir uma espiritualidade para agradar a todos, e tentar enganar a Deus e a si mesmo. A verdadeira espiritualidade esta em viver uma vida de comunhão com as pessoas num convívio saudável, seguindo juntos, e caminhando no meio a tantas problematicas que todos enfrentamos. A igreja esta perdendo a sua relevancia, e tem desenvolvido uma dependencia por parte de seus frequentadores, de homens e lugares. Será que o Espírito Santo e a Palavra de Deus não são mais suficientes. Devemos uma hora dessa convidar a Deus para estar na igreja, pois tem tido tantos dispostos a ajuda-Lo com métodos e ritos, que tem tornado os cultos em reuniões congregacionais, onde encontramos todo mundo menos Deus. Chega deste cristianismo humanizado que tem afastado as pessoas de Deus, e aproximado de homens. Até quando ficaremos de domingo a domingo neste serviço eclesiástico de auto-apascentamento , que tem
nos tirado de nossas famílias e inchado a igreja causando um esgotamento espiritual.Nestes ultimos dias tem faltado vontade e prazer de ir na casa de Deus, pois o seu dono não tem achado lugar pra se sentar, e ceiar com seus servos.
"Pois busco eu agora o favor dos homens, ou o favor de Deus? ou procuro [agradar] aos homens? se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo" Gl.1.10
Jesus....que bom que você habita dentro de mim...senão não sei onde te encontaria...
Adel
Caro Valdinei,
Acho que entrar entrar na área reservada para comentários apenas para dizer que "assina em baixo", geralmente revela falta de criatividade e, talvez, pouca capacidade crítica. Mas creia que não é só porque padeço das duas deficiências que, ao ler esse seu post,senti-me constrangido a dizer-lhe que eu assino em baixo, mas porque esse post encarna o mesmo sentimento do meu coração. E então, vamos para o “Happy Hour”!
Um abraço,
Paulo Silvano
Muito bom o texto.
Quero estar onde estão meus verdadeiros amigos e irmãos. Não quero irmãos da comoção e obrigação de serem irmãos. Não quero irmãos que não frequentem minha casa e pouco dão espaço para que eu frequente as deles.
Quero pessoas que sejam amigas que partilhem meus momentos e estejam do meu lado por que amam estar.
É isso ai.
Postar um comentário