quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A eficácia pedagógica de Jesus: Um novo paradigma de Espiritualidade


Os gregos denominavam “pedagogo” os escravos que tinham a nobre missão de conduzir os menores aos seus mentores, portanto, historicamente o termo pedagogia denota, basicamente, a imprescindível “arte de conduzir ao conhecimento”.

Os evangelhos deixam transparecer em suas narrativas que a primitiva característica da pedagogia pode ser claramente percebida na inter-relação de Jesus com as pessoas, em sua rápida, porém significativa, trajetória na palestina do primeiro século.

O caminhar pedagógico do Mestre tinha como objetivo inaugurar um novo modelo de Espiritualidade, requisito indispensável para quem almejasse habitar no benfazejo Reino de Deus, cuja ênfase estava em conduzir homens e mulheres a se apropriarem da verdade libertadora e salvífica.

Evidentemente que para conduzi-los para além de suas cativas existências fazia-se necessário enfrentar algumas estruturas perversas - patriarcalismo, legalismo, ritualismo, dogmatismo, hipocrisia - que aumentavam ainda mais o abismo entre a religião oficial e a as pessoas, em suas reais necessidades espirituais.

Podemos arriscar, com base nos evangelhos, que a pedagogia de Jesus é libertadora, pois proporcionava às pessoas, escravizadas por um sistema religioso sem vida, respirar o ar puro da doce e graciosa misericórdia.

O processo ensino-aprendizagem em Jesus, além de ser desafiador, assume um rosto “festeiro”, ele come, bebe e celebra com “alunos delinqüentes”, refeições que tinham um significado comprometedor, pois significavam declaração irrestrita de profunda amizade.

Outra característica que merece toda atenção na ação pedagógica de Jesus é o diálogo franco, aberto, nivelado e, acima de tudo, problematizador, que conduz as pessoas a fazerem suas escolhas sem qualquer tipo de constrangimento.

O quarto capítulo do evangelho de João, cujo texto descreve detalhadamente o encontro de Jesus com a mulher Samaritana, mostra a eficácia pedagógica de Jesus na construção de um novo paradigma de Espiritualidade.

Ao conversar com uma mulher Samaritana Jesus enfrentou, ou melhor, desprezou as convenções perversas de sua época, pois não era socialmente adequado um homem conversar em público com uma mulher, e não era também menos inadequado um Judeu dialogar com uma desprezível Samaritana, que além de todas estas características indesejáveis, não tinha um currículo moral dos melhores.

Por último, Jesus liberta a mulher e a todos nós da miopia religiosa que vê a presença do Senhor apenas em espaços geográficos específicos e consagrados, confinando-o a determinadas construções humanas, como se fosse possível enquadrá-lo em Templos.

“Mas vem a hora – e é agora - em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura” Jo 4: 23.

Verdadeiros adoradores, verdadeira Espiritualidade, verdadeira liberdade, onde encontrá-los?

sábado, 3 de novembro de 2007

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Virtudes para uma outra Igreja possível: uma fé rebelde



A palavra rebelde significa: revoltado, opositor, insurgente, indomável e teimoso. Descreve as características de uma pessoa que não se conforma com alguma coisa ou situação, manifestando-a por meio de ações.
A idéia que nós temos sobre rebeldia está condicionada por arquétipos que trazem a idéia de irresponsabilidade, violência, desobediência, ingenuidade, entre outras coisas. Será que o pensamento comum está correto?
Nem sempre o termo define alguém comprometido com a violência ou caos social, alguns agem pacificamente, movidos pela resignação, como é o caso de Martin Luther King, Dalai Lama, Chico Mendes, Nelson Mandela e tantos outros que dignificaram e dignificam a existência humana.
Rogério Brandão escreveu recentemente um artigo na Ultimato “Santa Rebeldia”, que causou repulsa em algumas pessoas, pois não entenderam a essência do texto, que em nenhum momento, em minha opinião, foi inconseqüente.
Percebo que a problemática que se desenrola entre os cristãos, a respeito deste assunto, é a exigência bíblica de submissão às autoridades constituídas. É possível conciliar estes dois conceitos aparentemente antagônicos? Acredito que sim, pois são duas realidades que co-existem nos personagens do Antigo e Novo testamento, basta uma leitura “libertadora” da Bíblia. Ops! Rotular-me-ão como adepto da teologia da libertação?
Em minha frágil leitura neotestamentária percebo que: todo o conceito de submissão às autoridades deve ser pautado pelo viés da obediência primeira a Deus - Porém, respondendo Pedro e os Apóstolos, disseram: mais importa obedecer a Deus do que aos homens. Atos 5: 29.
O texto Bíblico aponta para uma atitude de rebeldia explícita por parte dos líderes da Igreja do primeiro século, ao se revoltarem contra as ações do Supremo Concílio Judaico, que desejava calá-los para não mais pregarem o Evangelho. Eles foram indomáveis e teimosos em defesa das Boas Novas.
Os insurgentes saíram da presença das autoridades, louvando a Deus pelos açoites que levaram na prisão: Retiraram-se, pois, da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus. Atos 5: 4.
Os líderes da Igreja primitiva foram forjados pelo exemplo de Jesus, o maior de todos os rebeldes do Novo Testamento. Ele é lembrado pelos Evangelhos se revoltando contra os cambistas do Templo, fazendo duríssima oposição à religiosidade “bancária” dos Fariseus, emprestei o termo de Paulo Freire, não cedendo um milímetro de sua mensagem profética, mesmo tendo a oportunidade de abandonar suas convicções para livrar sua pele, indomável e maravilhosamente teimoso!
Os quadros mais belos, pintados pelos evangelistas, são aqueles que retratam as insolências de Jesus à mesa com pecadores, curando nos sábados, quebrando o protocolo social ao conversar com mulheres em locais públicos e por fim pendurado na Cruz como um subversivo.
Outro exemplo de coragem pode ser encontrado no livro dos Atos dos Apóstolos, que narra vários episódios de insubordinação “santa”. Um deles me chama a atenção mais que os outros, àquele que descreve a prisão de Paulo e Silas em Filipos que, após a extraordinária intervenção do Senhor, exigiram das autoridades retratação pelo erro jurídico que cometeram. Que loucura! Se fosse eu sairia correndo o mais rápido possível. At. 16: 16-40.
A diferença? Uma fé que não se ajoelhava diante das injustiças, que não se intimidava com a perseguição e nem tampouco com a possibilidade de enfrentar as bestas feras nos circos Romanos. O martírio era o coroamento de uma vida consagrada ao senhor, por isso cantavam em direção a ele com hinos de louvores ao Senhor.
Confesso que ficaria feliz se alguns teólogos tivessem a mesma ousadia, com que defendem seus enunciados teológicos, em denunciar uma sociedade insensível à miséria, que mora logo ali ao lado. Agora me denunciei!
Alegrar-me-ia com uma Igreja Viva, que não faz concessões, barganhas, simulacros, dissimulações, entre outras coisas. Não fomos chamados para ser uma comunidade de açúcar, com membros docilmente preparados para a dominação.
Portanto, prefiro uma Igreja que em sua vocação profética coloque o dedo em riste, condenando os sem escrúpulos, que depenam a máquina pública, fazendo perecer milhares de pessoas nas filas dos hospitais, do que uma comunidade que partilha dos despojos com os poderosos.
Que Deus tenha misericórdia de todos nós!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Rabiscos para uma liderança possível

A Igreja Evangélica Brasileira passa por uma crise sem precedentes, fato que pode ser facilmente constatado nos veículos de comunicação de massa, que estampam nossas mazelas em todo o país.
As recentes acusações públicas, envolvendo alguns líderes de destaque no cenário evangélico, são provas contundentes de que algo de grave está acontecendo entre nós.
Acredito que um dos fatores que tem minado a força do clero evangélico é a sua auto-suficiência, acreditam que são super-homens ou super-mulheres, que estão acima de qualquer dificuldade e que gozam de “cobertura espiritual” incondicional.
Por causa desta confiança exacerbada muitos entram em declínio espiritual prejudicando a Igreja em que atuam como pastores ou pastoras, manifestando à sociedade um péssimo exemplo de cristianismo e trazendo descrédito para a mensagem do evangelho.
Desconfio que a origem das chagas que tomam conta de uma parte da liderança protestante está na ausência de preparo para desenvolver as funções do pastorado e também a falta de cuidado pastoral para os que exercem o pastoreio.O que fazer então? Penso que é difícil em poucas linhas mapear os caminhos a serem seguidos para recuperar a credibilidade da liderança evangélica nacional., mas é possível rabiscar algumas possibilidades:
1. Diminuir a concentração de poder. Um (a) líder que deseja servir a Cristo com autenticidade não pode ter ganância pelo poder, mas terá prazer em compartilhar suas funções e prerrogativas com outros (as) líderes qualificados (as). Um ministério não pode circunscrever-se a uma única pessoa.
2. Abrir mão dos holofotes. Muitos (as) são os (as) que se perderam no caminho quando se acharam excessivamente importantes para o sucesso do movimento e transformaram ministérios em reino terreno, com projetos megalomaníacos envolvendo grandes somas de dinheiro. Este caminho é perigoso!
3. Compartilhar medos, dores, traumas e ressentimentos. A comunidade não precisa de um Pastor (a) com super-poderes, e sim um ser humano que tem sentimentos e frustrações como qualquer outra pessoa. Mostrar o lado frágil em certos momentos fortalece a figura do Pastor (a).
4. Amar, cuidar e zelar pela família. Não há nada mais importante para alguém que serve a causa do Reino do que estar com os seus em perfeita harmonia e sintonia. Cuidar da família é um dever bíblico de todo aquele (a) que almeja trabalhar para o Senhor. Se um Pastor (a) não consegue ver o rosto de Deus no sorriso maroto de seu filho (a) está em apuros.Se não consegue se surpreender com a beleza e sensualidade de sua esposa (o) está caminhando para a desgraça.
Portanto uma liderança eficaz, que cumpre seu propósito em cooperar com o Reino de Deus, além de refletir sobre as pistas expostas acima, deverá eleger como exemplo Jesus, que: abdicou do status de celebridade, abriu mão do poder mundano e de suas riquezas, se ausentou para estar perto de Deus, amou pecadores a ponto de sentar à mesa com eles em manifestação genuína de amizade, não teve medo de compartilhar sua dor e jamais cedeu a síndrome de homem de aço.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Menos Religião e mais Compaixão

Em recente artigo postado neste espaço, “Menos Igreja e mais Happy Our”, fiz uma crítica a centralidade do templo na devoção religiosa evangélica, que em minha modesta opinião gera graves transtornos para a maturidade dos Cristãos, condicionando-os a guetos religiosos.
Concentro-me agora no distanciamento da igreja das reais necessidades dos habitantes do local onde funciona, causando desconfiança sobre suas verdadeiras intenções.
Não há dúvida que a presença das Igrejas evangélicas se faz sentir praticamente em todos os bairros das grandes cidades. Há casos em que funcionam frente a frente ou lado a lado, como já mencionei anteriormente.
O Departamento de Pesquisas da Cepal previa que em 2005 haveria aproximadamente 202 mil templos evangélicos espalhados em todo território nacional, possivelmente este número tenha aumentado muito nos últimos dois anos.
Acredito que uma grande parte destes templos possui amplas instalações -  em alguns casos luxuosas -preparadas para atender os vários departamentos criados pela burocracia eclesiástica e que muitas vezes não correspondem com a situação econômica de seus freqüentadores.
São grandes os prejuízos para a sociedade, e também para o Reino, esses prédios permanecerem fechados a maior parte do dia enquanto há uma infinidade de carências entre a população mais pobre.
Sinto-me constrangido quando percebo o isolamento da Igreja, insensível ao abismo social existente no Brasil. Algumas até criaram entidades de assistência social, mas nem sempre com fins legítimos, como ficou comprovado com a máfia das sanguessugas. Perdemos a oportunidade de cooperar com o Reino de Deus quando agimos de maneira egoísta, olhando somente para as nossas reais “necessidades” consumistas.
Não são raras as ocasiões em que agimos de maneira hipócrita quando despedimos o necessitado de mão vazias e sem ajudá-lo dizemos: “Jesus te ama”.Quantas vezes nos sentimos mal com a aproximação de um necessitado pedindo ajuda na saída da Igreja? Gostaríamos que aquela pessoa simplesmente não existisse.
Imaginem comigo, como seria bom se em cada igreja houvesse uma quadra de esportes com um voluntário de educação física ensinando valores e dando esperança para crianças de rua. Mais um pouco de imaginação: o que vocês achariam de uma comunidade aberta durante o dia oferecendo cursos gratuitos de qualificação, ministrados por profissionais voluntários? Façam mais um pouco de esforço e pensem nas salas de aula, àquelas que são usadas duas horas por semana nas atividades da escola dominical, repletas de crianças recebendo reforço escolar de professores voluntários.
O que machuca caríssimos irmãos é que as Igrejas são isentas de impostos, pois a constituição entende que se trata de instituições sem finalidade lucrativa e que praticam filantropia. Será?

“A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo”. Tg 1: 27.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

A fraca presença evangélica na TV

Já faz algum tempo que venho analisando a participação "evangélica" na televisão brasileira e sinceramente, com raríssimas exceções, não acredito que os programas veiculados tenham algum impacto na sociedade, ao contrario, penso que comprometem ainda mais a tão desgastada atuação dos evangélicos no cenário nacional.

Os programas estão próximos do que existe de mais esdrúxulo no espaço televisivo, pois exploram a miséria humana como matéria prima de um produto a ser comercializado no promissor mercado religioso brasileiro.

Não faz muito tempo assisti envergonhado três pastores atuando atrás das câmeras, com traquejos próprios de vendilhões de ilusões, propondo aos telespectadores a possibilidade de se alcançar a “benção de Deus” através de uma oração que seria “despachada” nos ares, pois estariam mais próximos do “dono da benção”. Após um período de longa teatralização lá foram eles, com a ajuda de um helicóptero, para as alturas executar o “serviço religioso”.

Outro tipo de programa indigesto é aquele em que há dialogo ao vivo com o telespectador, onde todos os problemas humanos são analisados na perspectiva da atuação demoníaca, inclusive dores de barriga inesperadas.

O quadro do “antes e depois” brinca com a nossa inteligência: sempre aparece uma pessoa bem arrumada testemunhando sobre todas as “dádivas alcançadas”, em especial às financeiras, “bênçãos” mediadas é claro pela “igreja fulano” e pelos “pastores-vendedores”.

Minha indignação vai ao limite quando vejo programas apresentados por “pastores” bem vestidos que falam muito bem, dignos representantes do sucesso empresarial no mundo religioso, com status de estrela do show business. Gabam - se  de possuírem carrões em suas garagens e suas aparições em eventos são caríssimas.

Suas mensagens vendem a ilusão da grandiosidade: “grande avivamento”, “grande poder”, “grandes sinais” e o tempo todo a programação é intermediada com flashes de participações grandiosas em mega eventos evangélicos.

O que mais choca é que os programas ditos "evangélicos" são uma extensão da maneira como uma parte da igreja se porta frente à sociedade: “uma igreja de mercado”.

Acredito que o crescimento a qualquer custo sangra a participação evangélica na televisão. O Evangelho não é um produto de “eficácia garantida” para a problemática condição humana.

Senhoras e senhores o evangelho de Jesus não pode ser reduzido a um pacote de serviços religiosos com o intuito de atender a demanda espiritual de telespectadores infantis e passivos.

“Mas ainda que um anjo do céu vos anunciasse outro evangelho, além do que eu já vos tenho anunciado, seja maldito”. Gl 1: 8









quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Menos Igreja e mais "Happy Hour"

Estou impressionado com a intensa proliferação de templos evangélicos disputando o promissor mercado religioso. Quando passo pelas principais ruas da minha cidade no domingo à noite não consigo ficar alheio a este fato preocupante.

É no mínimo estranho, mas há casos em que duas comunidades distintas funcionam literalmente frente a frente, ou lado a lado.

Tenho a sensação de que a nossa espiritualidade é profundamente dependente da estrutura organizacional do espaço “sagrado”, o templo, sem o qual não se consegue “conectar ao sobrenatural”.

Estou quase convencido que o melhor da espiritualidade brasileira pode não estar nos grandes, e nem tampouco nos menores templos deste imenso país, ao contrario, acredito que algumas igrejas têm sido um estorvo ao crescimento espiritual de milhares de cristãos.

Acredito que uma autêntica espiritualidade poderia (ou deveria?) também surgir de encontros informais e ocasionais, talvez numa pizzaria, no churrasco de final de semana com os amigos, num café expresso, num bate papo na rua, no ônibus, etc.

Perdoem-me os mais conservadores, mas estou convencido que a espiritualidade de Jesus está longe da atitude beata de muitos dos freqüentadores dos cultos evangélicos do domingo à noite.

Os Evangelhos apresentam um Jesus que viveu plenamente toda a complexidade humana, festejando, chorando, cheio de esperança, cheio de temores, orgulhoso da atitude dos homens, irado com a injustiça humana.

Esta vida plena de Jesus segundo os evangelhos nos convida para uma espiritualidade criativa, não domada, que não se curva frente à “retidão do dogma”, mas que se enternece pela fragilidade da vida.

Os “santos” freqüentadores do templo e da sinagoga acusaram Jesus de “beberrão e comilão”, ficaram chocados quando o viram comendo e bebendo com os pecadores numa perfeita desarmonia religiosa.

Não são raros os casos em que os programas religiosos escravizam as pessoas roubando-lhes completamente o tempo que deveria ser destinado à família, aos amigos e a si mesmo.

Alguém poderá se escandalizar com esta afirmação, mas a verdade é que Jesus se “sujava” ao interagir com os “sujos”, ou seja, os excluidos e ignorados pela “limpeza” ritualística dos doutores da lei.

A recusa de Jesus em não se enjaular no templo, de resistir o cabresto do programa religioso e não se prostrar diante da observância cega do dogma deveria pautar nossa espiritualidade.

Portanto me perdoem a ousadia, mas precisamos menos igreja e mais “Happy Hour”.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O fracasso do Cristianismo

O titulo pode parecer um tanto quanto incoerente para muitos, inconseqüente para outros, mas na verdade precisamos reconhecer que o cristianismo de certa forma falhou em sua nobilíssima missão de transformar o mundo num lugar mais justo à vida.

O sonho de uma comunidade que seguisse fielmente os ensinos de Cristo teve pouca duração na história, basta ler os primeiros capítulos de atos dos apóstolos para perceber que a natureza humana, com sua forte inclinação para o pecado, determinou os caminhos a serem trilhados pelos seguidores de Jesus.

Apontar um marco histórico exato, a cristianização do ébrio império romano, para explicar o declínio do cristianismo é cair em simplificações estapafúrdias. É sabido que acontecimento como aquele não surge do acaso, mas é fruto de um silencioso processo de adequação aos interesses de quem dita as regras.

Evidentemente que nunca houve escassez completa de homens e mulheres cheios de piedade e temor ao Senhor, mas é fato inconteste que as estruturas de poder seduziram os lideres do passado e desde então capitulamos.

O cristianismo impôs um código de regra, mais conhecido como dogma, de difícil execução, restringiu os privilégios religiosos aos “selecionados” e perpetuou uma “espiritualidade” de elite.

A preservação do status adquirido determinou as ações posteriores. Instalou-se uma relação promiscua com o estado e vidas foram destruídas com a demoníaca desculpa de que prevaleceram os interesses do “reino”.

O eurocentrismo cristão do século XV devastou o novo mundo: povos dizimados, mulheres violentadas, crianças assassinadas e a miséria perpetuada como legado social.

A partir do século XVIII a elite cristã capitalista da Europa fatiou a África e a Ásia como uma pizza e os EUA e a Inglaterra fixaram seus tentáculos na América Latina para garantirem mercados para os seus produtos. A título de exemplo, com o patrocínio da Inglaterra o Paraguai foi quase dizimado pela tríplice Aliança - Brasil, Argentina e Uruguai – pois sua industrialização colocava em risco os interesses Britânicos na região.

Para combater o avanço comunista no pós-guerra de maneira mais efetiva os Estados Unidos lançaram a “Doutrina de Segurança Nacional”, cujo objetivo era fortalecer os militares dos paises Latino-americanos no combate aos partidos de esquerda e conduzí-los ao desenvolvimento econômico (capitalismo), sob a égide do imperialismo americano é claro.

Este período se transformou em mais um triste episódio na tão sofrida história dos Latino-americanos que tiveram seus direitos cerceados com ausência de liberdade de expressão, fim dos partidos políticos, repressão a manifestações públicas, fechamento dos sindicatos e proibição de movimentos sociais.

É correto afirmar que os EUA na defesa de seus interesses imperialistas patrocinaram o terror nas ditaduras militares da América Latina sustentando seu (sub) “desenvolvimento”.

Em suma, a fé cristã se distanciou tão fortemente de suas origens que vergonhosamente se voltou contra Jesus, crucificando-o ao defender os interesses dos poderosos e negligenciando os oprimidos.

As pisadas do Mestre desapareceram sob a espuma suja dos interesses egoístas dos “seguidores de Cristo”.
Hoje temos um mundo a beira do colapso. Os séculos de dominação das nações cristãs esgotaram os recursos naturais, essas mesmas nações continuam sangrando a economia dos países pobres e o mundo não está melhor para quase dois bilhões de pessoas.

O cristianismo continua sua trajetória de alianças espúrias, oprimindo as massas com sua mensagem adocicada, prometendo triunfo aos seus seguidores e cauterizando as mentes rebeldes.

Onde estão os verdadeiros seguidores de Cristo?

Tentando sobreviver sob os escombros fétidos da decadente história do Ocidente cristão.


quinta-feira, 12 de julho de 2007

Nossas escolhas determinam nossas intenções

Discutíamos recentemente em sala de aula sobre as escolhas que devemos fazer quando almejamos militar no Reino de Deus. O assunto surgiu quando tratávamos sobre a defesa de Paulo apresentada na epístola aos Gálatas.

O apóstolo escreveu às igrejas da Galácia para, entre outras coisas, defender dos ataques judaizantes a legitimidade de seu ministério, a fidelidade da mensagem que proclamava e a sinceridade de suas motivações.

O apóstolo faz o seguinte questionamento: “Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo”.

Paulo ao defender sua autoridade apostólica e seu ensino deixou claro que não foi chamado por homens, fato evidenciado pela sua ausência do circulo apostólico de Jerusalém no inicio de sua carreira cristã, algo displicente para quem almejava, segundo acusação dos seus opositores, os “holofotes”.

A mesma atitude pode ser constatado também nas atividades de Jesus quando recusou as propostas de “sucesso” feitas pelo diabo, o Mestre não almejou estar entre os “grandes” da Jerusalém “sacra”, antes trilhou caminhos opostos quando escolheu fincar suas raízes em solo “maldito” da Galiléia.

Resistir aos encantos do poder não é tarefa fácil, para tanto é necessária uma consciência profunda de chamado para servir a nobre causa do Reino de Deus.

O fascínio pelo “glamour eclesiástico” adoece nossas boas intenções. Vivemos num tempo em que já não encontramos mais motivações para servir aos “pequenos”, queremos os grandes, os excelentes os nobres.

Nossos discursos estão carregados de bajulação. Nossos textos transbordam termos incompreensíveis e palavras rebuscadas. Nosso ministério está comprometido com grupos de interesse eclesiástico, político e econômico. Supervalorizamos nossas qualificações em currículos duvidosos.

Precisamos urgentemente de conversão. Literalmente dar meia volta, abandonar nossos caminhos escusos e escalar o caminho íngreme da cruz de Cristo, porque se há alguma glória, é lá que a encontraremos.

Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo Gl 6: 14.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Eu tenho um sonho

O tédio e o marasmo tomam conta de um grande número de cristãos. Não são raros os momentos em que as pessoas se pegam questionando o valor do culto nesta complexa “religiosidade evangélica tupiniquim”.
A ausência de vontade em estar no culto é gritante. Acredito que tem sido um tormento, para muita gente boa, quando o relógio anuncia a fatídica hora de se “fantasiar” de cristão e ir à igreja.
Mesmo assim muitos corpos se arrastam como de costume, bem “arrumadinhos”, para o momento da “teatralização” do “sagrado”, cujo espetáculo ilusionista “enfeitiça” o público sem alma.
A musicalidade esfuziante e a pregação “gritante” destacam as peripécias de um “deus” que se satisfaz em manipular o mundo dos mortais, favorecendo os “melhores” com dádivas espetaculares e cobrando dos “piores”, uma melhor performance religiosa (pagar o preço).
Reconheço que não sou muito “espiritual”, mas tenho tido bons momentos de espiritualidade distante do enquadramento eclesiástico. Desconfio que homens e mulheres estejam percebendo (tardiamente?) que a igreja não tem o monopólio do sagrado.
Obviamente que não estou defendendo a ausência do cristão em relação à igreja, apenas denuncio a falência de um modelo que não corresponde à demanda espiritual do indivíduo.
Um modelo, que ao se prostrar diante de um “deus medíocre”, se distancia completamente do Reino de Deus, criando um profundo abismo no interior das pessoas, anulando qualquer possibilidade de uma fé autóctone e independente.
Alguns ambientes “evangélicos” estão produzindo, literalmente, uma multidão de viciados em “êxtase religioso”, uma droga que permite viajar no alucinógeno mundo “místico-mágico”.
O problema maior está na volta ao mundo real. Não são poucas as pessoas que se frustram com a rapidez do retorno, que acontece logo após o termino (ou seria o efeito) do “culto”, cuja realidade por si só não consegue libertá-las da necessidade de mais uma “dose”.
Os “profissionais do púlpito” falam da embriagues do “poder”, numa alusão equivocada ao derramar do Espírito no dia de Pentecostes, pois àqueles foram cheios para servirem à causa nobre do Reino e sacudiram o mundo, enquanto nós nos enchemos de “algo” que não subsiste ao virar da próxima esquina.
É obvio que não tenho um manual que favoreça um cenário diferente do que temos hoje. Ouso apenas “sonhar” com uma comunidade que faça o mínimo de sentido. Que possa rabiscar caminhos possíveis para uma espiritualidade “pé no chão”.
Sonho com uma comunidade que fomente uma espiritualidade relacional com Deus em profundo amor. Que no mínimo produza “espanto” e “temor” (não confundir com medo). Que se encanta com a ternura e graciosidade do Deus que aceita ser chamado  Aba pai!
Sonho, também, com a possibilidade de viver uma espiritualidade relacional com o “outro” em amor “humanizador”, estando no meio de gente e não “super-heróis” com “super-poderes”.
Sonho ainda, com uma espiritualidade problematizadora, que não aceita padronização, enquadramento e alienação. Que reforce a idéia de que somos sujeitos históricos, e não um bando de soldadinhos de chumbo, aguardando a manipulação do “divino”.

Eu acredito que é possível!!

segunda-feira, 28 de maio de 2007

A Bíblia como fonte Historiográfica

RESUMO

A Bíblia sagrada dos Cristãos não advoga para si a definição de “Documento Histórico”, este conceito não era peculiar aos seus autores. Não se encontra em seus escritos apenas uma tentativa de fidelidade histórica, ainda que isto lhe seja inerente, mas é possível descobrir que seu interesse é religioso, ou seja, concepções religiosas permeiam a narrativa bíblica. Não se pode desprezar, porém, que isto se dá em um momento histórico definido, portanto, fé e história se entrelaçam, criando assim um ambiente riquíssimo para o historiador moderno.

Palavras-chave: Historiografia; Positivismo; Nova Escola.


1 INTRODUÇÃO

Devo, com plena convicção, destacar, ao introduzir este trabalho, que a Bíblia não defende para si o pressuposto de “Documento Histórico”. A bíblia é um conjunto de vários livros de caráter religioso, escritos em vários momentos da história de Israel, dos Judeus e dos seguidores de Jesus de Nazaré.

É evidente que as experiências religiosas destes grupos se contextualizam num momento histórico específico, de maneira que a experiência religiosa se entrelaça com a história, em perfeita harmonia.

Este texto defende o conceito de que a Bíblia é, sem sombra de dúvida, uma fonte historiográfica, principalmente quando o labor histórico se dispõe a dialogar com as demais disciplinas das ciências humanas, construindo pontes de acesso à cosmo visão Bíblica.

Portanto, partindo das novas pesquisas, em especial, dos pressupostos da “Nova História”, entendemos que a Bíblia é uma importante fonte historiográfica, e sua contribuição é incalculável para o projeto histórico crítico.
Meu objetivo não é defender a credibilidade dos acontecimentos relatados no livro “Sagrado dos Cristãos”, mesmo acreditando ser possível, meu intuito é tão somente definir o que é a Bíblia e, tentar desmistificar algumas questões referentes ao seu texto.

Mesmo entendendo que estou condicionado pelas minhas convicções religiosa e acadêmica, entendo ser possível me lançar neste projeto com seriedade e independência, características necessárias para uma boa pesquisa.


2 O FALSO PRESSUPOSTO DE QUE A BÍBLIA É UM “DOCUMENTO HISTÓRICO”

É importante destacar que não houve, no período compreendido como “pré-moderno”, um questionamento sobre a historicidade do conteúdo da Bíblia, era fato inquestionável a veracidade de toda afirmação Bíblica, sendo que alguns posicionamentos contrários eram tidos como gravíssimo sacrilégio.

O debate sobre a credibilidade histórica da Bíblia surge em período posterior, com o advento do pressuposto “cientificista do iluminismo”, que inaugura a “era moderna” no limiar do século XVIII.

A partir deste período a Bíblia passa a ser investigada como “objeto histórico”, fato impulsionado pela pretensão de se encontrar o “Jesus Histórico”, ou seja, o homem Jesus de Nazaré, livre do condicionamento da fé dos primeiros cristãos.

A tirania “histórico-positivista” desqualificou completamente a Bíblia de sua importância histórica, atitude que distanciou completamente a historiografia do texto “Sagrado dos Cristãos”.

Até hoje a relação dos historiadores com a Bíblia não é amistosa, sendo que nos últimos anos esta imagem negativa vem melhorando, devido aos achados arqueológicos, que apontam para a fidelidade do relato Bíblico e também a atitude maleável dos teóricos da “Nova História”.

A afirmação de que a Bíblia não é um “Documento Histórico” poderá abalar as convicções dos Cristãos mal informados, mas não encontramos uma única informação no texto Bíblico que defenda este conceito de “Documento Histórico”, mesmo porque o conceito de “História” é uma pretensão do homem moderno e não fazia parte do universo conceptual dos escritores Bíblicos.
O professor de Teologia Bíblica Rochus Zuurmond (1998, p.118) da Faculdade Livre de Amsterdam, Holanda, nos traz uma importante contribuição sobre esta questão:

Por isso convém frisar outra vez que: a) os livros bíblicos, inclusive os evangelhos, não pretendem ser historiografia, já pelo fato de que a própria noção de “histórico” , como a usamos de alguns séculos para cá, era desconhecida; b) pensava-se de maneira “a - histórica” e, além disso, os evangelistas tinham por objetivo algo muito diferente de escrever história; queriam anunciar o fato, de importância mundial, de que Jesus estava vivo, com todas as conseqüências de tal fato; c) a história foi colocada a serviço do anúncio, e por isso não podia ser narrado em forma de “historiografia”, no sentido pretensioso que damos a esse termo.


Portanto, se trata de grave equívoco enquadrar a Bíblia em um conceito do mundo “moderno”, é evidente que os escritores Bíblicos tinham plena consciência de que estavam escrevendo algo verdadeiro e não tinham interesse que seus escritos impactassem a posteridade, são textos de ocasião, para fomentar a fé em Deus.

Quando o Apóstolo Paulo escreve suas epístolas não tem a menor intenção de que seus escritos se tornem textos sagrados dos seguidores de Cristo, suas cartas surgem de um difícil relacionamento teológico-pastoral com as comunidades fundadas por ele em suas viagens missionárias, portanto são literaturas de ocasião, e deve ser compreendida como tal.

Outros exemplos importantes podem ser constatados nos evangelhos, fontes que relatam as ações e os ensinamentos de Jesus na Palestina, estes escritos que partem de uma concepção religiosa sobre Jesus, não deixaram de destacar o aspecto histórico, pois se dedicaram em escrever sobre um personagem que nasceu, viveu e morreu, portanto um sujeito “Histórico”.

Qual o sentido da morte de Jesus para seus seguidores? Apenas evento histórico? Evidentemente que não, o acontecimento inaugura uma experiência religiosa: Cristo morreu pelos nossos pecados!

São alguns exemplos que mostram que o conceito de historicidade não era familiar aos autores dos livros Bíblicos, não se pode amordaçar o texto “Sagrado dos Cristãos” com concepções que lhes eram estranhas.

Portanto é falso o pressuposto que determina ser a Bíblia um “Documento Histórico”, não é este o seu objetivo, seu intento é fomentar a fé em um “Deus vivo”, cujo propósito é se revelar a toda criação, por intermédio de seu filho “Jesus Cristo”.

3 O FALSO PRESSUPOSTO DE QUE A BIBLIA NÃO É UMA “FONTE HISTÓRICA”

Acredito que em minha primeira abordagem ficou aparentemente claro que a Bíblia não é, e nem tampouco advoga ser, um “Documento Histórico”, pelo menos no enquadramento da “concepção moderna” que define as condições de tal pressuposto.

A atitude agressiva dos primeiros “historiadores iluministas” não se justificava, pois o texto “Sagrado dos Cristãos” jamais intentou ser um “Documento Histórico”, algo que tratei no capítulo anterior.

Esta falsa perspectiva distanciou os historiadores da Bíblia, negando com veemência sua importância como fonte historiográfica, é claro que esta postura deve ser entendida como um condicionamento de uma época que tentava se libertar da influência religiosa sobre o pensamento Ocidental.

Sobre o conceito que dominou a mentalidade dos historiadores do século XIX, recorro ao especialista em História, René Latourelle, que contribui da seguinte forma (1989, p.103):

A concepção da história que dominou no século XIX e que durante muito tempo inspirou os julgamentos sobre o valor histórico dos Evangelhos é a do positivismo representado por Ludwig von Ranke (1795-1886) e Theodor Monnsen (1817-1903). Ora, segundo os cânones do positivismo que aspira a dar do passado uma imagem exata e completa, a partir de fontes “historicamente puras”, esse julgamento de valor não pode deixar de ser desfavorável aos Evangelhos, estes lhes parecendo evidentemente como fontes “contaminadas” pela perspectiva da fé e pela interpretação teológica.


Esta concepção dominou por muito tempo a ciência histórica, numa atitude preconceituosa contra o texto Bíblico, evidentemente que esta visão não goza de muito prestigio na atualidade, devido à ingenuidade de seus postulados.

Segundo Latourelle (id, p.103), “Temos de reconhecer que semelhante ideal é não apenas inacessível, mas também contrário à realidade. Os fatos são sempre acompanhados por uma interpretação individual ou coletiva, sem a qual, aliás, ficariam ininteligíveis”.

É claro que esta postura antagônica inflamou reações imediatas entre os defensores da Bíblia que, tomados por um zelo religioso, empreenderam uma busca ferrenha, com o intuito de provarem de todas as maneiras a veracidade e fidelidade histórica do texto “Sagrado”, abrindo assim um abismo profundo entre as duas partes.
Juan Arias descreve este momento da seguinte forma (2001, p.23): “Por isso a Igreja se pôs a vasculhar desesperadamente nos documentos históricos da época, tanto judeus como romanos, em busca de alguma pista sobre a existência real da pessoa de Jesus”.

Estes dois pólos de tensão ficaram para trás, sendo possível hoje reabilitar o texto Bíblico como importante ferramenta de investigação historiográfica, resgatando sua credibilidade como fonte indispensável para entender a formação do mundo Ocidental.

Sobre o conceito moderno de história, Arias escreve (id, p.30):

Quanto ao conceito de história, que é, sem dúvida, muito mais preciso e rigoroso que o da Antigüidade, acredita-se que cada momento histórico possui o seu e que cada época tem uma forma de transmitir os fatos. E que não podemos julgar com critérios modernos o método usado pelos historiadores de 2.000 anos atrás.

Através da Bíblia é possível entender, com todas as dificuldades impostas, quem foi Jesus de Nazaré e de que maneira seus seguidores o interpretaram, dando origem ao maior empreendimento religioso da história, o Cristianismo.

É possível também conhecer e entender a história do povo Hebreu, principalmente quando entendemos sua influência sobre o Cristianismo, com seus valores, costumes, sua fé monoteísta, suas leis, sua estrutura socioeconômico.

Enfim, pode-se concluir que com as recentes reflexões sobre a natureza da história, sua ambição e seus limites possibilitam resgatar a importância do universo Bíblico como via de acesso para entender o mundo Ocidental.

Com muita propriedade Latourelle escreve sobre a difícil tarefa do historiador (id, p.107), “A arte do historiador consiste em captar essas harmonias que se propagam através dos séculos. É também por isso que é possível reescrever sem cessar a história, em razão da mudança do horizonte”.

Pode-se dizer, diante do enunciado, que o labor histórico deve perceber as subjetividades implícitas no fluxo da história, e o texto Bíblico é bastante amplo em experiências religiosas, fruto do universo particular de cada época.

4 CONCLUSÃO

Concluo este trabalho citando, com base no Evangelho segundo escreveu Lucas 1: 1-4, as três etapas que antecedem a origem dos evangelhos: A tradição oral, a tradição escrita e por fim o empreendimento teológico redacional.

Com base no que foi desenvolvido neste trabalho, gostaria de reafirmar que a Bíblia não é em hipótese alguma um “Documento Histórico”, ainda que este conceito traga inquietação e perturbação, muito pelo contrário, não se pode domesticar o “texto sagrado” a um mero conceito, a Bíblia vai além de conceitos e formulações.

Devo salientar, porém que a Bíblia é uma fonte historiográfica riquíssima, não podendo ser desprezada pela erudição moderna, corre-se o risco de atitude preconceituosa e leviana, tendo em vista o seu valor na elaboração do mundo Ocidental contemporâneo.


5 REFERÊNCIAS

ARIAS, Juan. Jesus, esse grande desconhecido. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
LATOURELLE, René. Jesus existiu? : história e hermenêutica. Aparecida: Santuário, 1989.
ZUURMOND, Rochus. Procurais o Jesus histórico? São Paulo: Loyola, 1998.